domingo, março 01, 2009

Porto-Coimbra



Sentada, aconchego-me ao banco que me vai suportar até ao fim da jornada. O espaço é diminuto, o ambiente é gélido e de cortar a respiração. Não há folhas de papel, não há jornais, não há revistas, não há livros, não há tradição. A carruagem vai a abarrotar e as pessoas vão coladas aos ecrãs dos portáteis e de auscultadores postos nos ouvidos. Ninguém fala, ninguém estabelece contacto com ninguém. Silêncio. Anónimos que irão ser anónimos até ao fim da viagem. Ninguém que vai continuar a ser ninguém. Tantos e tão poucos. Trocas de olhares constrangedores, unhas ruídas, sorrisos amarelos, olhos vagos que pensam na vida. A viagem outrora duradoura e criadora de novas amizades, torna-se agora em mais um lugar de isolamento. Mais um lugar onde não passamos de mais um, do anónimo que por aí vagueia, que não comunica, que cala e consente…. Fechamos os olhos e só nos preocupamos com o nosso destino, com a nossa paragem. Tudo o resto e todos aqueles que nos rodeiam são deixados em vão e tidos como ninguém.
Nós, continuamos a marchar sozinhos pelo trilho que antigamente era consumado por uma multidão.

8 Comments:

Blogger Carlos Costa said...

Se calhar é nos momentos que não somos ninguém que conseguimos ser mais nós próprios.
Mas quanto inventarem o teletransporte isso tudo acaba!
Quanto é que apareces em Lamego, pá? Já não te vejo há bué!
Beijinho*

11:06 da tarde, março 01, 2009  
Blogger FG said...

Mais um bom texto... quanto ao conteúdo... é um sinal dos tempos, e na minha opinião com tendência para priorar…

8:42 da tarde, março 02, 2009  
Anonymous Anónimo said...

Excelente! Um retrato perfeito da sociedade egoísa e (arrisco dizer) anti-social em que vivemos.

Beijos Josefa

7:12 da tarde, março 03, 2009  
Anonymous Anónimo said...

Cu-cu!
Só para te dizer que passei por aqui e gostei do texto.
Boa semana!
Beijinho
Tia C

12:29 da manhã, março 10, 2009  
Anonymous Anónimo said...

Sabes que muitas das vezes que viajei e viajo entre o meu lar e a casa onde vivo agora, apetece-me cometer uma loucura e falar com um estranho sobre isso! Eu sinto esse ar gélido todas as manhãs no metro, sinto os olhares neutros, as pessoas fechadas que provavelmente não estão a ter pensamentos coloridos. Chama-se "ego-rotina".

12:01 da manhã, abril 09, 2009  
Anonymous Titinha said...

eu acho que no quotidiano agitado dos dias de hoje ja nao ha tempo para m pouco de solidao e reflexao sobre a vida. os dias sao passados a trabalhar a noite cuida-se dos filhos e vai-se para a cama ja exaustos acabado por adormecer em minutos. acho que por isso as pessoas aproveitam o tempo em viagem quer seja de carro autocarro comboio ou metro, para terem esse tempo so para eles. para pensarem na vida e fazerem uma introspecção interior. por isso talvez nao se aproximem das outras pessoas pois precisem desse espeaço. é apenas a minha opiniao :)

11:32 da tarde, junho 16, 2009  
Anonymous Candida said...

A solidão é o " monstro" do tempo actual que destrói velhos e novos.Para a exorcizar urge tomar uma atitude: ser mais forte que ela. Quando não podemos interagir "tête - à -tête "há que fazê lo à distância. É a minha terapia para combater o ostracismo a que a desdita me lançou...Gostava que os "doentes" da solidão fossem capazes de se curarem aproximando se e deixando os outros aproximar se sem preconceitos, sem estigmas....Há que derrubar as barreiras que opoem as pessoas.
Escreves mto bem e estas atenta às realidades que te rodeiam. Parabéns da amiga e admiradora
Cândida

11:22 da tarde, junho 17, 2009  
Anonymous Anónimo said...

Muito boa escritora Marianita:)

Gostei deste texto, retrata a sociedade em que vivemos...

beijinho :)
Marta

2:00 da tarde, janeiro 23, 2010  

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