quarta-feira, abril 29, 2009

Preto no branco


Águas turvas e turbulentas aquelas que correm por onde passo. Dia de névoa, dia de frio. Não quero acordar nem lutar por dias como estes. Dias penosos, cinzentos, insípidos, amargos. O verde e os seus nuances juntamente com o florido desejado não existem. Vou deambulando serra a baixo em busca da suposta vida. Busco água que me tire a sede, comida que sacie a minha fome. Chego à cidade e não há nada, ninguém. Corro sofregamente pelas ruas da calçada farejando o odor humano e a civilização. Escorrego no chão molhado e caio. Sinto uma força a pôr-me de pé. Mãos fortes e amigas que amparam da queda, do precipício e do abismo. A agitação das ruas, a melodia citadina, os sons disformes, a paisagem outrora de arquitectura uniforme revela-se como um panóplia de cores, formas e sentidos. Uma complexa construção e evolução elaborada pela mente complexa do simples ser. Estilos quase inconfundíveis que destacavam as características autóctones, escondem-se agora detrás dos arranha-céus e edifícios de metal. As ruas onde as crianças brincavam dias inteiros são agora ocupadas por idosos que passeiam e descansam por parques e jardins. O amontoar de carros e de multidões a correr para o metro e para o trabalho, tornam as cidades frias.
Eu, vou observando este congelamento contínuo da nossa sociedade e das relações estabelecidas pelo ser. Apercebendo-me da descaracterização das sociedades, do emergir do sombrio à superfície.